Quinta-feira, 19 de Setembro de 2013

OS NOSSOS FILHOS JÁ NÃO MORAM AQUI


Este livro foi escrito e acarinhado ao longo de muito tempo até que o finalizei. Houve então um dia em que o desejo de publicá-lo surgiu e, esse desejo, ficou muito pouco tempo retido.
Pensei: Porque não editar? Porque não lutar por ele? Porque não transmitir através do meu livro, a quem o queira ler, sentimentos que estão dentro de mim e que talvez possam apaziguar o espírito de quem está sofrendo a ausência dos seus filhos? Porque não sensibilizar todos aqueles que têm o privilégio de terem os seus filhos vivos? Porque não sensibilizar também os jovens para o significado da alegria da VIDA e da tristeza da MORTE. Porque não ir ao encontro do sentir de muitas e muitas pessoas que, por várias razões, são tristes, revoltadas e infelizes?
Não foi fácil ter a ousadia de escrever um livro onde as convicções e as dúvidas se debateram, para eu, por fim, acreditar que ele podia ser útil.

Nunca tive uma noção tão clara como as palavras são importantes, como ao escrevê-lo.

 

Ao elaborá-lo tive o cuidado de ser humilde porque posso ser falível no que desejo transmitir, no meu objectivo. Sincera e emotiva porque exprimi o meu sentir como nunca o tinha feito. Corajosa e frágil porque sou humana. Preocupei-me em não querer igualar nenhum pai ou mãe pelo meu sentir e vivência.

  

 

Este livro não é uma catarse, é sim, a procura de um modo de incentivar a transformar a dor em saudade. Desejar que os pais em luto e não só, consigam prosseguir o seu caminho com coragem para alcançarem a virtude da esperança.


Procurei ajuda dando a ler alguns dos pedaços deste livro. Aí, comecei a ter respostas muito positivas ao meu apelo e não consegui parar o intento de o publicar.

 

É esta a sua história muito resumida. Contá-la em pormenor só fazendo um outro livro com episódios maravilhosos de contacto humano. Pessoas de coração aberto à solidariedade e à afectividade. 

 

Pouco mais tenho a acrescentar ao seu nascimento. Ele é o meu mensageiro. Foi escrito por amor e com amor.

 

Todos os que sofrem ao interrogarem-se sobre o caminho que devem percorrer, depois da ausência de quem amam, é porque o vosso interior pede tréguas para tanto sofrimento.

 

Aconchegar a saudade dentro de nós e sentir Amor pelos que nos rodeiam é a nossa salvação. O Amor é uma palavra que se usa e abusa mas, no entanto, o Amor, na sua verdadeira essência, penso que estão de acordo, é o que faz girar o mundo.

 

Todos temos diferentes personalidades, diferentes vidas, diferentes problemas mas sei que acreditam que é muito importante guardar dentro de nós a esperança.

 

A esperança é que nos anima a buscar as respostas para o incompreensível. É ela que nos põe na expectativa, de melhores dias para viver. A vida deixará de ser vida se não acreditarmos que o amanhã será um dia melhor e nos trará desafios para vencer o desalento.

 

Só uma saudade serena pode-nos ajudar a prosseguir. A saudade é muito mais do que morte, saudade é vida, é o agora que já deixou de ser presente. Deixou, sim, na memória, momentos importantes e intensos por nós vividos.

 

Resta-nos o consolo de sabermos que quanto maior for a saudade que sentimos, com certeza, mais rica terá sido a nossa vida.


Todos aqueles que quiserem obter o meu livro basta enviarem o pedido para 


e-mail:     aidacampos@sapo.pt  

 

publicado por criar e ousar às 16:58
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Segunda-feira, 22 de Outubro de 2012

Continuo com todos os que precisem de mim

Há já muito tempo que não escrevo  aos pais em luto que pesquisam na net umas palavras de coragem e solidariedade.

 

Tudo que está neste blog é vosso, é o meu sentir e sendo assim pouco mais há a acrescentar do que já escrevi. Compreendo, em cada ano que passa, mais a vossa dor. Estou mais velha, mais frágil e ao mesmo tempo mais forte. Não vos sei explicar esta complexidade de sentimentos onde as interrogações são constantes.

 

Felizmente, junto a mim, tenho os meus filhos vivos que me amam e me acarinham. Do outro lado tenho a criança que perdi. O filho que não cresceu. O filho que sinto que é o meu anjo, o meu companheiro, quando a solidão, de quando em vez, me bate à porta. É como estar dividida. Continuo a amar a vida...continuo a querer saborear o tempo que me resta amando, vivendo, sentindo este Eu que nasceu comigo e que acabará quando fôr  tempo.

 

O Nuno dá-me alento, dá-me o sorriso de esperança quando olho o mar, o céu, o sol, a lua e as estrelas e principalmente quando vejo as inocentes crianças a brincar...  Nelas encontro, por vezes, muitas semelhanças com esse filho que partiu. É a renovação, é o mundo que não pára.

 

Temos de ter coragem e enfrentar o dia a dia com resignação e esperança no amanhã, vivendo também positivamente cada dia que nos é oferecido. Usar a nossa saudade em energia positiva para sermos úteis mesmo nas coisas mais simples.

 

Já passaram 31 anos após a morte nunca esquecida deste meu amado filho. Como o tempo passa e como tudo se vai transformando...é inevitável.

 

Fui convidada a ir à TVI  amanhã, 23 de Outubro, ao programa "A Tarde é Sua" de Fátima Lopes.  Desejo que numa conversa serena e amiga as palavras que vos dirijo sejam as certas para vos ajudar a suportar tão grande dor. Que o meu percurso ao longo destes anos seja também uma esperança nos vossos corações

 

Um até breve  num abraço de conforto.

 

Aida Nuno

publicado por criar e ousar às 20:06
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Quarta-feira, 2 de Maio de 2007

Deixem-me sonhar

 

I

O bébé nasceu!

Carinha rosada, dedinhos perfeitos

Que linda criança!

Que sorte terá?

 

Já vai para a escola

Que crescido está!

Brinca na areia

Segura-se aos ferros que o fazem trepar

Pega no pneu e em debandada vão todos correr

Que traquina ele é!

Está um homenzinho!

Já sabe escrever, já sabe contar...histórias engraçadas

Nos olhos de amêndoa vê-se a terra inteira

Que lindo menino!

Joga futebol, mergulha no mar

E os soldadinhos são o seu brincar

Nos olhos de amêndoa vê-se a terra inteira.

 

Deus o menino levou numa madrugada

Parou de crescer, parou de brincar.

 

A mãe olha o horizonte e fica a cismar

Nos sonhos calados traça-lhe o destino

Dá vida ao menino.

 

                                II

Que belo rapaz!

Tão alto ele é!

Nos olhos de amêndoa vê-se a terra inteira

Passam os Natais, os aniversários e a mãe sorri

Linda rapariga, tão ajuizada que ele escolheu!

Passam os Natais, mais aniversários e a mãe sorri

Nasce o neto, carinha rosada, dedinhos perfeitos

Passam os Natais, os aniversários e tanta alegria!

 

A mãe está cansada

Olha o horizonte e no seu sonhar

Dá a mão ao filho para se confortar.

 

                                                                      Aida Nuno

sinto-me:
publicado por criar e ousar às 15:25
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Sexta-feira, 6 de Abril de 2007

E o tempo corre...

     

      Se não tivéssemos emoções ou sentimentos todos seríamos livres da dor... não tínhamos ilusões, ansiedades, medos e mágoas, só existiria em nós a lógica... Seria isso bom? Não sei se seria... Acredito que nos devemos empenhar em viver com qualidade de Vida e dar, na medida das nossas possibilidades, o que de bom temos.

 

       Para muitos dos pais o tempo é de sofrimento e o processo de reconciliação com a Vida é ainda longo e doloroso. Há que alcançar a esperança para que a alegria saudável volte ao seu interior e brilhe nos seus olhos. Recomeçar!

 

        O meu pensamento não é uma lei, não é uma certeza, é o meu sentir, a minha experiência perante a minha vivência de muitos anos de luto. Perdura em mim o ausente e isso, de certa maneira, conforta-me porque permanentemente esse filho me acompanha.

 

       Agarro-me a todos os bens que ele me deixou: a sua bondade, alegria e força. A beleza que irradiava, as suas palavras inocentes mas tão sábias, a despedida feita, sem que a morte fosse ainda anunciada, foram bênçãos para a minha vida e um grande e são orgulho me invade de ter tido este filho e de ter partilhado com ele onze lindas Primaveras. Digo Primaveras porque ele foi e será sempre a minha Primavera, o meu renascer...

 

        E o tempo corre, os anos passam e começamos a perder a nitidez da Vida passada, da voz do nosso filho, dos seus gestos e com angústia interrogamo-nos: Como é isso possível? Mas é assim...a sua Vida que foi palpável desapareceu e ficaram as suas palavras sem som e o seu espírito recolhe-se em nós mais vivo do que nunca. 

 

Neste fim de tarde quase vermelho

Um pouco alegre dentro do triste

Passeiam os pensamentos, os anseios

Vãos e irrealizáveis transbordando... 

  

E a flor cresce na terra quente

E o mar em ondas ruge e se espraia

Os anos não matam os momentos

Crescem, urram transbordando... 

  

Quem me dera falar-te, dizer-te

Em fim, amar-te vivo, criar-te em mim

Mas, meu amor, como era a tua voz?

Riso apagado, tristeza transbordando...

 

 

                                                               Aida Nuno

 

sinto-me: com coragem
publicado por criar e ousar às 19:11
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Domingo, 18 de Março de 2007

Mensagem

Os meus desejos...

 

        Se eu não posso acabar com o teu desgosto e ansiedade...posso e desejo comunicar contigo para juntos(as) procurarmos o melhor caminho para a tua serenidade.

         Se eu não posso apagar a tua mágoa e dor...se não está na minha mão o teu futuro de paz...posso e desejo, se tu quiseres, ser um porto de abrigo.           
        
 Se não posso impedir que vivas triste...desejo oferecer-te a minha mão para te ajudar a levantar. Dar-te o meu apoio e encorajar-te a prosseguir.

         Se não tenho poder para traçar para ti um caminho de felicidade...desejo ajudar-te a encontrar a tua paz e crescimento.
         Se eu não posso salvar esse teu coração ferido pela dor... posso e desejo compreender-te. 

          Mesmo sem te conhecer estou aqui sentindo muita ternura e amizade por ti. Sei o que sentes. Conheço a dor da perda de um filho. 

          É muito sincero o meu objectivo. O que te ofereço é um relacionamento humano, desinteressado e gratuito. Ajudar-te a conseguir viver com Esperança e Sabedoria será para mim a melhor recompensa.

          Rejeita o pensamento: não vale a pena... 

          Participa neste blog ou se preferires escreve para o meu e-mail. 

          Fico à tua espera...

 

                                                      Aida Nuno

 

sinto-me: bem ajudando
publicado por criar e ousar às 19:19
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Terça-feira, 6 de Fevereiro de 2007

Injustiça

           É de uma injustiça tremenda perdermos os nossos filhos. Como podem os Pais em Luto continuarem a sua caminhada depois da morte de um filho motivada, a maioria das vezes, por incúria? Quantos deles morrem na estrada por culpa de condutores embriagados ou convencidos que são os donos do mundo e têm direito a todas as atrocidades? Também a preparação dos jovens para a sensibilização do “valor da vida” é praticamente nula e os números estatísticos de mortes são assustadores.

 

         Perante a morte de um filho, seja ela motivada ainda no ventre da mãe, ao nascer, por doença, por acidentes de vária ordem não é aceite e sente-se que tudo deixou de valer a pena.

 

         O que sucede quando a morte os escolhe? A reacção imediata é uma sensação de paralisia e, ao sairmos desse estado, encontramos o sofrimento.

 

         O que significa para nós esta palavra — “sofrimento”? — É a nossa memória que não pára de recordar desde o gerar, criar com amor e carinho, os bons momentos, a resolução dos maus momentos e tantas outras coisas que vivemos em comum.

 

         Ficamos vazios, desamparados, sozinhos. É contra isso que a nossa mente protesta e se revolta: termos ficado a sós com a nossa dor sem o amparo da esperança no amanhã que são os nossos filhos. A mensagem que queríamos deixar na Terra.

 

         Como é saber viver com esse vazio? Normalmente, passo a passo o tempo e a nossa lucidez fazem findar o sofrimento — um findar real, e não simplesmente verbal, não o findar superficial, resultante de fuga, de nos querermos enganar. Esta é a maneira saudável de superar mas para chegarmos a este estádio é preciso muita coragem e determinação.

 

         Quando assim acontece, o sofrimento termina e encontramos uma outra jornada isenta de dor. Entramos na nossa saudade, na nossa paz e olhamos o nosso caminho com uma outra serenidade e aceitação.

 

         É bom perdermos o medo à morte. Mentirmos a nós próprios, escondendo a sua existência, só nos trás desassossego. Reflectir sobre a Vida, dar-lhe significado, meditar e construir o nosso caminho, da melhor maneira possível, depois da morte de um filho, é a essência para a nossa plenitude.

 

         Agarrarmo-nos demais a tudo que possuímos, melhor dizendo, pensamos que possuímos, só nos trás insegurança. Penso que tudo nos foi emprestado inclusive o nosso corpo e sendo assim um dia teremos de o devolver ao Universo.

 

         Porque é que a morte dos nossos filhos é uma amputação, uma perda irreparável para toda a vida? - Porque todos os pais esperam que os seus filhos os amparem na velhice e que os ajudem a partir. Ver morrer um filho ou anunciarem-nos a sua morte é a dor mais cruel da existência humana.

 

         Depois de tantos anos de luto um momento que me conforta é recordar-me de uma enfermeira que falou comigo, num ambiente calmo, sobre a gravidade da doença do meu filho. O ter estado os últimos dias ao lado dele sem pensar na sua morte preparou-me posteriormente para me dar ânimo para prosseguir. Conversando e vivendo com ele naturalmente os seus últimos dias até ao seu final imprevisível, foram mensagens de amor e serenidade que ficaram para o resto da minha vida.

 

           O ter assistido à sua partida, as suas atitudes, palavras, o sentir que estávamos em comunhão mesmo depois de tantos silêncios do medo, aconchegou a minha saudade eterna.

 

           Desejo que os meus pensamentos, a minha experiência alcançada com o tempo, esse tempo onde busquei respostas a tantas interrogações, muitas delas perdidas no ilógico deixando-me vazia e sozinha, possam dar a todos os pais, seja qual for a sua situação presente, uma visão sobre o valor da vida no seu todo, ou seja, sobre aquilo que pensamos possuir e que de repente se esfuma por ser efémero.

 

Aida Nuno

     

sinto-me: consciente das dificuldades
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publicado por criar e ousar às 15:20
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Introdução

                                                   

Pelo calor da noite

A morte veio sozinha

Cega arrebatou uma flor

Ainda Primavera.

  

Morte tão fria! Tão gelada!

Caminhas sobre mágoas.

Cobre-te um manto negro

Feito de pranto

Que ventre te gerou?

Nas trevas vagueias

Muda e cega

Nunca viste nascer uma flor.

    A.N.

                                            

                                         Em memória do meu filho Nuno

 

        Blog elaborado com a finalidade de ajudar os pais em luto que sofrem a perda dos seus filhos e o desejo de sensibilizar a reforçar os laços daqueles que têm a felicidade de os terem vivos.

        Mais ou menos intensa, como as ondas perante as marés, a saudade não tem tempo, persiste para sempre.

                                                                      

                                                                         Aida Nuno

                                                                                               
sinto-me: bem para continuar
publicado por criar e ousar às 11:15
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