Nunca tive uma noção tão clara como as palavras são importantes, como ao escrevê-lo.
Ao elaborá-lo tive o cuidado de ser humilde porque posso ser falível no que desejo transmitir, no meu objectivo. Sincera e emotiva porque exprimi o meu sentir como nunca o tinha feito. Corajosa e frágil porque sou humana. Preocupei-me em não querer igualar nenhum pai ou mãe pelo meu sentir e vivência.
Este livro não é uma catarse, é sim, a procura de um modo de incentivar a transformar a dor em saudade. Desejar que os pais em luto e não só, consigam prosseguir o seu caminho com coragem para alcançarem a virtude da esperança.
Procurei ajuda dando a ler alguns dos pedaços deste livro. Aí, comecei a ter respostas muito positivas ao meu apelo e não consegui parar o intento de o publicar.
É esta a sua história muito resumida. Contá-la em pormenor só fazendo um outro livro com episódios maravilhosos de contacto humano. Pessoas de coração aberto à solidariedade e à afectividade.
Pouco mais tenho a acrescentar ao seu nascimento. Ele é o meu mensageiro. Foi escrito por amor e com amor.
Todos os que sofrem ao interrogarem-se sobre o caminho que devem percorrer, depois da ausência de quem amam, é porque o vosso interior pede tréguas para tanto sofrimento.
Aconchegar a saudade dentro de nós e sentir Amor pelos que nos rodeiam é a nossa salvação. O Amor é uma palavra que se usa e abusa mas, no entanto, o Amor, na sua verdadeira essência, penso que estão de acordo, é o que faz girar o mundo.
Todos temos diferentes personalidades, diferentes vidas, diferentes problemas mas sei que acreditam que é muito importante guardar dentro de nós a esperança.
A esperança é que nos anima a buscar as respostas para o incompreensível. É ela que nos põe na expectativa, de melhores dias para viver. A vida deixará de ser vida se não acreditarmos que o amanhã será um dia melhor e nos trará desafios para vencer o desalento.
Só uma saudade serena pode-nos ajudar a prosseguir. A saudade é muito mais do que morte, saudade é vida, é o agora que já deixou de ser presente. Deixou, sim, na memória, momentos importantes e intensos por nós vividos.
Resta-nos o consolo de sabermos que quanto maior for a saudade que sentimos, com certeza, mais rica terá sido a nossa vida.
Todos aqueles que quiserem obter o meu livro basta enviarem o pedido para
e-mail: aidacampos@sapo.pt
Meu filho
Chama por mim donde estiveres
Eu vou
Se a tua alma mergulhou no mar
Para se juntar a corais e a estrelas
O meu corpo será sal e água
Para te encontrar
Se a tua Alma é flor silvestre
Que só nasce na montanha agreste
Durante o Verão
Eu vou lá chegar
Prendo o olhar nesse lugar
E espero
Que loucura é esta?
Se o que me resta é procurar
É querer saber onde tu estás
Chama por mim donde estiveres
Eu vou
Aida Nuno
Não desesperes se, num trágico dia, esse amado filho, que trouxeste ao mundo, deixou a estrada da vida e partiu para aquele espaço que acreditas que seja de tranquilidade infinita. Seca as lágrimas de angústia e vive aguardando com serenidade que a tua caminhada chegue ao fim.
És mãe para todo o sempre. Sempre uma palavra, neste contexto, cheia de Esperança, o significado de crer acreditar que os momentos mágicos de partilha com esse filho não morreram. A alma ficou magoada mas aberta ao sonho de continuares a viver trazendo bem vivo dentro de ti esse filho que foi uma realidade.
É bom acreditar que no dia em que a tua viagem tiver o seu termo, ao chegares à sua beira, manterás com ele um diálogo de amor infinito. Por isso, esforça-te para que a nostalgia não se abrigue em ti e faça da tua pessoa um ser doente, demasiado só e triste. Contempla o céu, as estrelas e toda a magnificência do mundo que nos abriga, debruça-te sobre aqueles que nada possuem e sê atenta. Aos que te quiserem escutar fala-lhes das tuas experiências de vida, das tuas memórias. Conta às crianças, que por ironia do destino se cruzam contigo, histórias do teu imaginário de criança e com elas partilha a alegria de estares viva porque assim serás de novo mãe. Estás a contribuir para um mundo mais humano, estás a ofertar ou seja a transformar o teu desgosto em algo muito belo que no momento certo relembrarás junto desse filho que partiu. É bom acreditar que um dia te juntarás a ele e falarão das coisas bonitas do mundo dos homens.
Sentiste, tanto como eu, que naquele dia em que o teu filho de ouro partiu, as sombras caírem sobre ti e um desejo intenso de te juntares a ele obcecou-te. Sê firme perante o desgosto e continua a aceitar a essência da Vida em relação a ti e aos outros que te rodeiam.
Sabes mãe, o tempo é curto e, por isso, tens de caminhar, dar a volta ao mundo que podes abranger, viver a tua missão de Vida, a partir do momento em que nasceste, sem o pedir, até ao ponto de retorno que não será o Nada mas sim aquilo em que acreditares.
Tenta renovar as tuas forças, a tua determinação e acredita que apesar da distância, da fragilidade que sentes, dessa incerteza em que o teu coração se encontra, o teu filho está incondicionalmente contigo para todo o sempre. Escuta-o e olha para o exterior e respira. Renova-te e responde-lhe dizendo que deixou de ser importante não o sentires fisicamente. Estarão sempre juntos para partilharem diferentes claridades.
Murmura, fala ou grita junto ao mar ou à montanha, que queres a sua felicidade e, apesar desta inevitável ausência, tudo está presente, porque o amor é de tal intensidade que ficarás à espera que tudo um dia se transforme e te demonstre o seu significado.
Eu para sobreviver brinco com as palavras e com elas faço versos, faço narrativas que me trazem as lembranças escondidas fazendo-me rir ou chorar. Fico feliz ao passar para o papel pedaços do meu caminho que se cruzam com outros caminhos que eu procuro ou que se me apresentam e na qual eu medito. Nada disso agora tem importância...o que eu desejo é que te lembres do meu convite para fazeres da tua vida, momento a momento, um desafio, partilhado com os vivos e os mortos que estão no teu coração.
Aida Nuno
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