Domingo, 13 de Maio de 2007

Chorar faz bem

 

         Perante a nossa grande mágoa, chorar é um comportamento natural que exprime os sentimentos de desespero, revolta e tristeza. A contenção do choro muitas vezes depende da cultura ou mesmo da educação que se tenha tido.

         Chorar é mostrarmo-nos de uma maneira mais expressiva. Não reprimir o choro é ter oportunidade de criar um elo com a nossa própria emoção. Através dessa expressão sentida conseguimos conhecermo-nos melhor, uma vez que estamos a extravasar os nossos sentimentos intensamente. Assim  suportaremos melhor a angústia que nos quer destruir.

         É humana esta necessidade imensa de sentir a dor através do choro. Libertarmo-nos da opressão que sentimos e, quando esse transbordar de lágrimas cessa, chegamos a pensar: “Chega de chorar. Vou encarar a Vida e fazer o meu melhor em memória do meu filho”.

         É depois de desabafar através das lágrimas, por vezes, há muito contidas, que se encontra alívio e clareza de espírito para prosseguir e enfrentar o dia a dia, ou seja, o futuro. Fica-se mais sintonizado com as emoções. Há uma libertação saudável do interior para o exterior.

         Muitos pais reprimem as suas lágrimas por vergonha de se mostrarem como homens fracos. Nunca conseguiram chorar. Enquanto o não fizerem estão sujeitos a comportamentos compulsivos, medos e manias que acabam por limitar a sua vida fazendo também sofrer os seus familiares.

         A nossa dor não passa com o tempo. O tempo só atenua a dor, mas não a cura. A dor só acaba por ir purificando o sofrimento, dura realidade que nos magoa. Apenas e só a consciência do sofrimento é capaz de transformá-lo em serenidade. É preciso aprender a saudade para não acumularmos mais confusão no nosso interior.

         O nosso autoconhecimento surge quando passamos a aceitar a nossa fragilidade diante da dor da perda e naturalmente viver com a nossa sabedoria intuitiva de defesa. A dor, como forma de alimento, por muito que me custe dizê-lo, por receio de não ser compreendida, é inútil. É preciso sim unir o pensamento ao sentimento. Saber conviver com o nosso filho perdido, em paz.

         Como poderemos fazê-lo? Cada pai ou mãe são diferentes e sendo assim reagem das maneiras mais diversas. Todos eles, no entanto, sabem que têm de prosseguir por si, pelos outros filhos, pelo trabalho que lhes dá a subsistência, pelos seus próprios pais mais idosos e cansados, em fim, um rol de circunstâncias que fazem desesperar mas também incutir a força de reagir.

         Que a opressão que muitas vezes carregamos seja aliviada pelas lágrimas. Depois... é bom olhar o céu com todas as suas nuances e acreditar sempre no dia seguinte. Um renascer de esperança e coragem para nos podermos abrir ao amor com todos aqueles que partilham a nossa vida.

         O luto por um filho é um processo muito doloroso e que foge ao nosso controle. Não há regras nem certezas. Podemos pensar que estamos bem para encarar o quotidiano mas, inesperadamente, num momento, num olhar, num gesto, num vulto, num sorriso todo o drama surge tão nítido que caímos outra vez no abismo da perda. Acreditem, porém, que cada vez que se erguerem se vão sentir mais corajosos e mais inteiros.

 

                                                                                 Aida Nuno 

 

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publicado por criar e ousar às 18:50
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