Por vezes ficamos perdidos na vida, perdidos entre os outros, surdos às suas palavras e aos seus gestos de amor. As razões são dolorosas, eu sei, não sentimos mais emoção perante o que vemos ou ouvimos pois deixámos de querer prosseguir. Perdemo-nos do mundo e de nós próprios.
Depois, bem depois cada um de nós pede que as encostas íngremes da vida sejam suavizadas. Agitamo-nos a cada instante como se fosse esse o primeiro ou o último. Temos uma força que nem sempre sabemos de onde vem. Temos a esperança quando sentimos o calor do sol e espanto perante todo este universo e, ao mesmo tempo, vivemos com a dor maior de seguir em frente, dia após dia, continuando a sentir a ausência física do filho que amamos para todo o sempre. Podemos morrer e ressuscitar, ou viver e desistir...
Vamos ser fortes. Seguir em frente sob novas formas, nova sabedoria, nova...sempre nova vida, como uma renovação, lembrando que esse filho perdido é uma estrela para sempre refulgindo nos nossos corações.
Ofereço-vos este poema maravilhoso do grande poeta português Antero de Quental:
Feliz de quem passou por entre a mágoa
E as paixões da existência tumultuosa,
Inconsciente, como passa a rosa,
E leve como a sombra sobre a água.
Era-te a vida um sonho. Indefinido.
E ténue, mas suave e transparente...
Acordaste, sorriste... e vagamente
Continuaste o sonho interrompido.
Aida Nuno