Quinta-feira, 8 de Fevereiro de 2007

Procura

Meu filho

Chama por mim donde estiveres

Eu vou

 

Se a tua alma mergulhou no mar

Para se juntar a corais e a estrelas

O meu corpo será sal e água

Para te encontrar

 

Se a tua Alma é flor silvestre

Que só nasce na montanha agreste

Durante o Verão

Eu vou lá chegar

Prendo o olhar nesse lugar

E espero

 

Que loucura é esta?

Se o que me resta é procurar

É querer saber onde tu estás

Chama por mim donde estiveres

Eu vou

 

                                                        Aida Nuno

sinto-me: interrogativa
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A Ausência

          Não desesperes se, num trágico dia, esse amado filho, que trouxeste ao mundo, deixou a estrada da vida e partiu para aquele espaço que acreditas que seja de tranquilidade infinita. Seca as lágrimas de angústia e vive aguardando com serenidade que a tua caminhada chegue ao fim.

        És mãe para todo o sempre. Sempre uma palavra, neste contexto, cheia de Esperança, o significado de crer acreditar que os momentos mágicos de partilha com esse filho não morreram. A alma ficou magoada mas aberta ao sonho de continuares a viver trazendo bem vivo dentro de ti esse filho que foi uma realidade.

        É bom acreditar que no dia em que a tua viagem tiver o seu termo, ao chegares à sua beira, manterás com ele um diálogo de amor infinito. Por isso, esforça-te para que a nostalgia não se abrigue em ti e faça da tua pessoa um ser doente, demasiado só e triste. Contempla o céu, as estrelas e toda a magnificência do mundo que nos abriga, debruça-te sobre aqueles que nada possuem e sê atenta. Aos que te quiserem escutar fala-lhes das tuas experiências de vida, das tuas memórias. Conta às crianças, que por ironia do destino se cruzam contigo, histórias do teu imaginário de criança e com elas partilha a alegria de estares viva porque assim serás de novo mãe. Estás a contribuir para um mundo mais humano, estás a ofertar ou seja a transformar o teu desgosto em algo muito belo que no momento certo relembrarás junto desse filho que partiu. É bom acreditar que um dia te juntarás a ele e falarão das coisas bonitas do mundo dos homens.

        Sentiste, tanto como eu, que naquele dia em que o teu filho de ouro partiu, as sombras caírem sobre ti e um desejo intenso de te juntares a ele obcecou-te. Sê firme perante o desgosto e continua a aceitar a essência da Vida em relação a ti e aos outros que te rodeiam.

        Sabes mãe, o tempo é curto e, por isso, tens de caminhar, dar a volta ao mundo que podes abranger, viver a tua missão de Vida, a partir do momento em que nasceste, sem o pedir, até ao ponto de retorno que não será o Nada mas sim aquilo em que acreditares.

        Tenta renovar as tuas forças, a tua determinação e acredita que apesar da distância, da fragilidade que sentes, dessa incerteza em que o teu coração se encontra, o teu filho está incondicionalmente contigo para todo o sempre. Escuta-o e olha para o exterior e respira. Renova-te e responde-lhe dizendo que deixou de ser importante não o sentires fisicamente. Estarão sempre juntos para partilharem diferentes claridades.

        Murmura, fala ou grita junto ao mar ou à montanha, que queres a sua felicidade e, apesar desta inevitável ausência, tudo está presente, porque o amor é de tal intensidade que ficarás à espera que tudo um dia se transforme e te demonstre o seu significado.

        Eu para sobreviver brinco com as palavras e com elas faço versos, faço narrativas que me trazem as lembranças escondidas fazendo-me rir ou chorar. Fico feliz ao passar para o papel pedaços do meu caminho que se cruzam com outros caminhos que eu procuro ou que se me apresentam e na qual eu medito. Nada disso agora tem importância...o que eu desejo é que te lembres do meu convite para fazeres da tua vida, momento a momento, um desafio, partilhado com os vivos e os mortos que estão no teu coração.

 

Aida Nuno

sinto-me: feliz por ajudar
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Terça-feira, 6 de Fevereiro de 2007

O Sentido da Vida e da Morte

        Todos sabemos que nascemos, vivemos e morremos. 0 que ninguém sabe, verdadeiramente, é a real mensagem do nascimento, do nosso percurso e morte, muitas vezes prematura.

 

         O interessante é pensar como o homem conduz e organiza a sua vida, isso inclui, a forma como são atribuídos os valores àquilo que a vida oferece: coisas, pessoas, conhecimentos e sentimentos. Essa reflexão pode conduzir-nos a um olhar mais profundo sobre como, muitas vezes, acabamos levando a vida.

 

         Existir não significa viver porque os que simplesmente existem têm mais angústia pensando na morte do que aqueles que vivem num caminho buscando uma meta, um ideal. Os que existem buscam constantemente apenas o que melhor possam conseguir para si de uma maneira egoísta. Já os que vivem têm um projecto entusiasta de vida. Para estes não importa o tamanho da sua obra, mas sim, deixar qualquer coisa de muito positivo para o seu próximo. Acreditam que se construírem algo positivo, mesmo que seja simplesmente cuidar da sua família, estão ajudando a humanidade. Os seus filhos são para eles uma espécie de mensagem viva para um futuro que não viverão, por isso o amor que oferecem e dedicação é a essência da sua própria vida.

 

          Devíamos considerar a dor da perda como uma visita da morte à Vida, e sem dor não há Vida. Apegarmo-nos demais a tudo que materialmente possuímos,  melhor dizendo, pensamos que possuímos e iludirmo-nos por um espaço de tempo que mais cedo ou mais tarde se nos apresentará sem sentido.  Houve outros valores, como a afectividade, o amor ao próximo, o relacionamente humano que foram descurados. Olhando para esse passado que já não sentimos e não nos deixou raízes, vemos um futuro curto e árido, resultado do caminho percorrido. Reconhecemos que já é tarde para modificar tanta coisa que poderíamos ter semeado. 

           

         A morte não significa velhice. Contrariamente, é uma certeza para atravessarmos a vida com coragem e com objectivos. É necessário perdermos o medo ao inevitável e viver com qualidade. Não devemos sofrer antecipadamente o nosso final anunciado. É  essencial reflectir sobre a Vida, dar-lhe significado, meditar e construir o nosso caminho da melhor maneira possível. Não devemos mentir a nós mesmos escondendo a sua existência silenciosa.

 

         Muito poucos de nós têm intimidade com cemitérios. Alguns fazem do cemitério um ponto onde encontram paz e meditação. Outros preferem a natureza e, por isso, desejam ser cremados e que as suas cinzas sejam jogadas nos campos, nos rios ou no mar. Cada pessoa sente de maneira diferente mas, no entanto, há muito em comum em todas elas. É preciso respeitar a dor.

 

         A morte acompanha-nos desde o nascimento e, sendo cega, não escolhe idades. Nada nos pertence e os nossos filhos também não. Somos só depositários fiéis desse tesouro. É muito difícil depois de tanto amor, carinho e preocupações, ficarmos tão magoados e sem esperança.

 

         A partir da sua ausência o que verdadeiramente importa é saber viver com esse vazio, sem dele fugir como recorrer a crenças alucinantes. É preciso deixar fluir a vida naturalmente.

 

         A morte de um filho é uma dor muito profunda. Deixemos essa grande dor esfumar-se sem remorsos. O tempo tem o dom de nos acalmar porque tem a vida para lhe fazer companhia. Que a saudade fique serena para nos impulsionar para atitudes boas e corajosas.

 

         Sou uma mãe em luto, um testemunho e o que vos posso dizer é muito simples: Meu filho partiu com a idade de onze anos e ausentou-se há vinte e cinco anos. 

 

         A sua doença prolongou-se durante dois anos e meio, sem uma grande dor física mas, de uma dor moral profunda. Acompanhei-o sempre e como pude pois, nessa época, os hospitais não permitiam a presença constante da mãe.

 

         Não duvido do profissionalismo desse tempo mas o papel do enfermeiro posteriormente modificou-se em relação à parte psíquica da criança e dos seus pais, especialmente a mãe. É gratificante sabê-lo. Penso que já se deram muitos passos para ajudá-los no acompanhamento dos filhos nos hospitais mas, com certeza, muito mais há para fazer porque nunca é demais procurar meios cada vez mais eficientes para ajudar quem sofre.

 

         Como mãe que perdeu um filho de doença prolongada, penso que os pais, nos casos de doenças terminais, deviam ser ajudados, pelos enfermeiros, a exteriorizar os seus sentimentos em relação à criança doente.

 

         Os pais ficam muito preocupados querendo saber exactamente o que a criança sente e, para isso, o papel do enfermeiro deve ser tentar perceber, através de desenhos, jogos, brinquedos, e outras ideias o seu estado psíquico a fim de ser normalizado.

        

         Eles precisam de informações exactas e actualizadas em linguagem que possam compreender e, repetidas essas informações se necessário. Muitos pais não têm nenhum conhecimento básico sobre anatomia ou fisiologia.

 

         Os enfermeiros devem ensiná-los a prestar cuidados especiais que, muitas vezes, são necessários. Assim tornam-se úteis e a sua ansiedade diminui.

 

         Sei, caso raras excepções, que o pessoal de Saúde também sofre, impotente contra uma realidade muito cruel: ver a dor da criança e não a poder salvar. Deve ser muito difícil estar firme nestes momentos e, por fim, transmitir aos pais a notícia da perda dos seus filhos. É importante e necessário que, essa terrível notícia seja dada por quem acompanhou o doente (seja médico ou enfermeiro) na sua fase final e não por uma pessoa estranha para os pais. Assim, seria muito importante criar dentro dos hospitais espaços onde estes profissionais possam também falar da sua dor e da sua impotência (de preferência em grupo). Porque não existir um psicólogo para os pais e também para os próprios profissionais de Saúde?

 

         Na doença o papel dos pais  é conseguir arranjar coragem para encorajar o filho a prosseguir com esperança na sua cura. Os filhos acabam por nos dar grandes lições de vida, de força e de coragem.

 

         Todo o vazio e angústia que nos oprime, o medo do futuro sem esse filho que motivou a nossa vida e o desalento que toma conta de nós demoram a extinguirem-se, aliás, pontualmente aparecem. Só o tempo nos ensina a saber desviar esses sentimentos.

 

         Eu ultrapassei-os olhando para os mais infelizes do que eu como, por exemplo, aqueles que ficaram sem filhos e ainda com dificuldades de vária ordem, sem possibilidade de recomeçar dada a sua idade, a sua fragilidade psíquica e outros problemas que não podemos abranger porque cada família é um mundo, por vezes, intransponível e o tempo não espera por nós...

 

         Estou aqui a pedir a todos os pais em luto muita coragem. Passo a passo o caminho da dor, revolta, ressentimento ir-se-ão esfumando. Hoje é o dia do primeiro passo. Bem Hajam.

 

Aida Nuno

sinto-me: com uma grande força interior
publicado por criar e ousar às 16:15
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Injustiça

           É de uma injustiça tremenda perdermos os nossos filhos. Como podem os Pais em Luto continuarem a sua caminhada depois da morte de um filho motivada, a maioria das vezes, por incúria? Quantos deles morrem na estrada por culpa de condutores embriagados ou convencidos que são os donos do mundo e têm direito a todas as atrocidades? Também a preparação dos jovens para a sensibilização do “valor da vida” é praticamente nula e os números estatísticos de mortes são assustadores.

 

         Perante a morte de um filho, seja ela motivada ainda no ventre da mãe, ao nascer, por doença, por acidentes de vária ordem não é aceite e sente-se que tudo deixou de valer a pena.

 

         O que sucede quando a morte os escolhe? A reacção imediata é uma sensação de paralisia e, ao sairmos desse estado, encontramos o sofrimento.

 

         O que significa para nós esta palavra — “sofrimento”? — É a nossa memória que não pára de recordar desde o gerar, criar com amor e carinho, os bons momentos, a resolução dos maus momentos e tantas outras coisas que vivemos em comum.

 

         Ficamos vazios, desamparados, sozinhos. É contra isso que a nossa mente protesta e se revolta: termos ficado a sós com a nossa dor sem o amparo da esperança no amanhã que são os nossos filhos. A mensagem que queríamos deixar na Terra.

 

         Como é saber viver com esse vazio? Normalmente, passo a passo o tempo e a nossa lucidez fazem findar o sofrimento — um findar real, e não simplesmente verbal, não o findar superficial, resultante de fuga, de nos querermos enganar. Esta é a maneira saudável de superar mas para chegarmos a este estádio é preciso muita coragem e determinação.

 

         Quando assim acontece, o sofrimento termina e encontramos uma outra jornada isenta de dor. Entramos na nossa saudade, na nossa paz e olhamos o nosso caminho com uma outra serenidade e aceitação.

 

         É bom perdermos o medo à morte. Mentirmos a nós próprios, escondendo a sua existência, só nos trás desassossego. Reflectir sobre a Vida, dar-lhe significado, meditar e construir o nosso caminho, da melhor maneira possível, depois da morte de um filho, é a essência para a nossa plenitude.

 

         Agarrarmo-nos demais a tudo que possuímos, melhor dizendo, pensamos que possuímos, só nos trás insegurança. Penso que tudo nos foi emprestado inclusive o nosso corpo e sendo assim um dia teremos de o devolver ao Universo.

 

         Porque é que a morte dos nossos filhos é uma amputação, uma perda irreparável para toda a vida? - Porque todos os pais esperam que os seus filhos os amparem na velhice e que os ajudem a partir. Ver morrer um filho ou anunciarem-nos a sua morte é a dor mais cruel da existência humana.

 

         Depois de tantos anos de luto um momento que me conforta é recordar-me de uma enfermeira que falou comigo, num ambiente calmo, sobre a gravidade da doença do meu filho. O ter estado os últimos dias ao lado dele sem pensar na sua morte preparou-me posteriormente para me dar ânimo para prosseguir. Conversando e vivendo com ele naturalmente os seus últimos dias até ao seu final imprevisível, foram mensagens de amor e serenidade que ficaram para o resto da minha vida.

 

           O ter assistido à sua partida, as suas atitudes, palavras, o sentir que estávamos em comunhão mesmo depois de tantos silêncios do medo, aconchegou a minha saudade eterna.

 

           Desejo que os meus pensamentos, a minha experiência alcançada com o tempo, esse tempo onde busquei respostas a tantas interrogações, muitas delas perdidas no ilógico deixando-me vazia e sozinha, possam dar a todos os pais, seja qual for a sua situação presente, uma visão sobre o valor da vida no seu todo, ou seja, sobre aquilo que pensamos possuir e que de repente se esfuma por ser efémero.

 

Aida Nuno

     

sinto-me: consciente das dificuldades
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Manifesto

Estou aqui

Por todos os filhos do nosso luto

Pelos que sem vida nasceram

Pelos bebés que não puderam crescer

Por todas as crianças que morreram

Pelos jovens que queriam viver.

 

O tempo não tem tempo

Passa...os filhos não!

Vamos perpetuar dentro de nós

A sua imagem

Os momentos bons e irrepetíveis

Com lucidez e muita coragem.

 

Que a Saudade seja eterna

Como terna será a nossa Sabedoria

Transportemos pois o facho da Esperança

 

Filhos de Vida tão breve

Continuaremos por vós o caminho

Entre o mistério da Vida e da Morte

Aprendendo a ser

A crer no Amanhã...Viver!

 

Que a saudade seja eterna

Como terna será a nossa Sabedoria

Transportemos pois o facho da Esperança

 

Juntemos as nossas mãos

Profundamente sentiremos esta união

Amor, Fraternidade e Paz

Sem culpas, medos ou segredos

Que nasça a palavra certa

O gesto que nos aqueça     

Manifesto em cadeia que nunca acaba

 

Só assim os lembraremos

Só assim os honraremos

Só assim viveremos em plenitude.

                                                           Aida Nuno

sinto-me: bem com os amigos
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publicado por criar e ousar às 13:06
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Introdução

                                                   

Pelo calor da noite

A morte veio sozinha

Cega arrebatou uma flor

Ainda Primavera.

  

Morte tão fria! Tão gelada!

Caminhas sobre mágoas.

Cobre-te um manto negro

Feito de pranto

Que ventre te gerou?

Nas trevas vagueias

Muda e cega

Nunca viste nascer uma flor.

    A.N.

                                            

                                         Em memória do meu filho Nuno

 

        Blog elaborado com a finalidade de ajudar os pais em luto que sofrem a perda dos seus filhos e o desejo de sensibilizar a reforçar os laços daqueles que têm a felicidade de os terem vivos.

        Mais ou menos intensa, como as ondas perante as marés, a saudade não tem tempo, persiste para sempre.

                                                                      

                                                                         Aida Nuno

                                                                                               
sinto-me: bem para continuar
publicado por criar e ousar às 11:15
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